por Ana Patrícia Peixoto
Psicóloga e Psicoterapeuta Biossistêmica
“Eu dou a impressão de que sou seguro, de que tudo está bem e em paz comigo, que meu nome é confiança e tranquilidade é meu lema; que as águas estão calmas e que estou no comando sem precisar de ninguém. Mas não acredite nisso tudo, por favor! É apenas uma aparência… E agora você poderia perguntar: Quem sou eu? Eu sou uma pessoa que você conhece muito bem, porque eu sou todo homem, toda mulher, toda criança… todo ser humano que você encontra.”
Escolhi estas palavras extraídas do texto intitulado Máscaras (autor desconhecido) para através delas nos aproximar de uma dor que está na alma, que não tem cara, não tem religião, não tem classe social, enfim ela pode ser minha, sua e de todos nós.
A partir destas palavras desejo falar um pouco da depressão que é um adoecimento que a cada dia vem fazendo mais e mais “vitimas”. Estas pessoas comumente se escondem por traz de uma aparência tranquila, segura e por vezes sorridente, pois aprenderam que o medo, a fraqueza, os pensamentos negativos e a falta de ânimo para realizar simples tarefas, como se levantar pela manhã, não devem ser mostrados, nem falados. É coisa de gente “folgada”, de vagabundo, de pessoas mimadas. E isso traz muita vergonha e culpa.
Este silêncio vai lentamente permitindo que o adoecimento invisível se alastre e passe a dominar todo o EU com pensamentos e sensações desagradáveis; insônia x sonolência; com ausência de prazer, vazio afetivo, solidão, confusão, chegando a perder o sentido em existir que muitas vezes leva ao suicídio. Sente que deixar de existir é a única alternativa para parar a dor que corrói a alma, e para que a família possa parar de sofrer. Esta é a lógica do desespero diante da ideia de que não existe saída.
Como podemos identificar que uma pessoa está passando por este sofrimento?
Como podemos perceber através da máscara que uma pessoa, seja um familiar ou amigo pode está passando por este sofrimento? E como ajudá-lo a reconhecer que precisa de ajuda profissional?
Existe alguns sinais em todo estado depressivo. Alguns são evidentes, outros mais sutis. Pode começar com uma tendência a ficar mais recluso, evitando eventos sociais; isolamento mesmo quando em grupo; moleza e sensação de cansaço físico e/ou mental; desenvolvimento de dores ao longo do corpo; aperto no peito; uma vontade de chorar que surge sem motivo aparente; sensação de incapacidade nas atividades rotineiras; olhar vazio e perdido; remoer pensamentos negativos. As vezes irritação e agitação corporal e pensamento acelerado e sem foco.
Ter na vida um ombro amigo, uma relação afetiva segura e acolhedora é importante para quem sofre de depressão, e um grande auxiliar ao processo terapêutico para ajudá-la na retirada do isolamento e no restabelecimento de um vínculo que é quebrado pela depressão. Isto ajuda a pessoa deprimida se manter na vida e comprometida a se cuidar.
O tratamento da Depressão
Na terapia é comum escutar:
“por mim já teria tirado minha vida, mas não posso fazer isso com ele(s)…”
“meus filhos precisam de mim” – “meus pais vão sofrer muito”
“tenho medo de morrer… tenho pensamentos horríveis… mas, eu quero viver …”
“Me doe não sentir mais amor pela minha família …”
“Eu não sinto mais nada, eu já estou morta”
“Eu não quero fazer nada, só ficar na cama, mas preciso me levantar por eles”.
A terapia do depressivo precisa ser acompanhada de psicoterapia aliada a um tratamento medicamentoso. Porém quando uma pessoa busca a psicoterapia apresentando leves sintomas e sem histórico de distúrbios psíquicos anteriores ou familiares, é possível que só a terapia possa ajudá-lo a encontrar um equilíbrio, desde que tenha o suporte de familiares que podem restabelecer vínculos seguros e amorosos, e inicie algumas mudanças de hábitos necessário para manter a energia psíquica dinamicamente equilibrada.
A medida que a terapia anda se revela em alguns pacientes experiências primárias de abandono, negligencia, maus tratos e/ou abuso. Experiências estas que violaram as necessidades básicas no início da vida e não permitiram o desenvolvimento de uma personalidade segura e resiliente. Ao contrário, apresentam um baixo limiar a frustração, atitudes autodestrutivas, reatividade emocional ou desenvolvem um comportamento agressivo como uma atitude inconsciente de afastar o outro, etc.
Estas experiências muitas vezes veem acompanhadas de fortes emoções de raiva e medo que não tiveram espaço de expressão e acabaram reprimidas, comprimidas; assim como a expressão dos desejos que foram violados, negados ou sucumbiram numa relação ilusória de afeto. Esta relação aparece através de comportamentos de submissão ao desejo do outro, as vezes em troca de cuidado e afeto, ou por pensar que a vida do outro é mais importante, “eu cedo pela harmonia da família”, “…ele está certo eu sou incapaz, incompetente, burra…”, “eu não me sustento sem ele (a) ”.
As três dimensões (emocional, física, mental)
Na psicoterapia Biossistêmica atuamos a nível psicofísico auxiliando o paciente na expressão das emoções encobertas, ensinando ele a desenvolver a consciência dos seus estados afetivos pelo conhecimento das sensações (sinais fisiológicos que falam se estamos bem ou mal). Este é um grande aliado da terapia. A medida que o paciente aprender a ler esses sinais ele pode evitar a recaída no ciclo depressivo tão conhecido, buscando ajuda profissional e utilizando seus recursos internos de “cura”.
A nível energético e corporal realizamos intervenções que permitem o aumento do “Arousal” que desperta as sensações e a experiência interna de prazer e amor. O fortalecimento do vínculo entre terapeuta e cliente que deve constantemente ser renovado e atualizado é uma experiência que o paciente leva para seu cotidiano e a reproduz em seu círculo familiar e social. Ajudamos ao paciente a integrar no presente o EU ALEGRE QUE SONHAVA que ficou abandonado no passado, da infância ou adolescência.
Através da psicoterapia, o paciente experimenta retomar o contato com atividades prazerosas que foram abandonadas ao longo da vida, ou aprender a tê-las se elas foram ausentes. Para alguns é bom dançar, para outros fazer academia, já outros preferem atividades de canto, outros atividades artesanais. Sempre é bom incentivar atividades para serem executadas a dois ou em grupos para fortalecer os laços com a vida.
Acredito, que a Terapia Biossistêmica é uma eficiente abordagem no tratamento da depressão por trabalhar nas três dimensões (emocional, física, mental), ao trabalhar conectando os sistemas límbico, cognitivo, sensório motor, pois sabemos que na depressão a motivação, o prazer pelas atividades e a sensação interior de bem estar estão fortemente afetadas. Este é o trabalho estrutural, intrapsíquico. A nível relacional falamos de uma postura terapêutica respaldada numa atitude ressonante de empatia corporal: com mãos fortes, mas gentis que são capazes de amparar a dor.
Termino esta breve reflexão com a convicção: resgatar a alegria de viver é possível.
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